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Samuel Úria escreveu:
Permitam-me esta deselegância: vou escrever sobre o Alex D’Alva Teixeira, mas começo a falar de mim. Não é egocentrismo, só deselegância e desrespeito total pelos protocolos invisíveis de um press release. O Alex é uma questão de percepção, não de opinião, por isso é necessário que me entendam a mim, antes de entenderem o que quero dizer. Agora que sabem que sou deselegante, passo a relatar que também sou velho e rezingão.
Há dois anos ultrapassei os trinta de idade. Sou da geração que iniciou esta coisa abominável, onde a casa dos vinte é uma adolescência prolongada e, depois, os trintas são a after-party das festividades todas. Sendo eu dos que tecem abominações à sua geração, consequentemente quis envelhecer muito depois dos trinta, ser jarreta, entregar-me às rezinguices. Como resultado, perdi grande parte do gozo pela novidade, ganhei desatenção pelas coisas do hoje e do amanhã. Sou velho, não quero saber do que há de novo.
Para quê, perguntarão vocês, esta longa e ensimesmada introdução? Fácil. Se compreenderam o meu desinteresse pela novidade, vão também perceber que, não à toa, a novidade acabou por me atropelar, que o interesse voltou. Essa rendição tem um nome: Alex D’Alva Teixeira.
Conhecer, ouvir e ver o Alex são o suficiente para não querermos envelhecer. É, portanto, um Peter Pan. Só que preto, com um flat top à Arsenio Hall e nascido durante a altura em que o Arsenio Hall tinha o famoso talk-show. Um miúdo! Um danado dum miúdo com o descaramento de nos puxar as orelhas, e os braços, para o meio dos que dançam.
Tenho dificuldade em descrever o talento do Alex quando o único termo de comparação é o seu potencial. Se tento falar do potencial do Alex, tenho de referir o talento (e a dificuldade em descrevê-lo). No mesmo impasse, abordar este EP pecará pelo excesso de actualidade; vocês vão ouvir as canções, vão gostar das canções, vão dançar com as canções, mas a minha cabeça já está fita no céu. Elogiar o conteúdo de um disco é pequeno quando sabemos que nasceu uma estrela. Estrela “D’Alva”, para quem gostar de trocadilhos cósmicos, ou de como a astronomia pontapeia o rabo da astrologia.
Como é que eu sei isto tudo? Muito simples. Sou trintão, sou velho, rezingão, doem-me as costas quando o tempo muda, reconheço talento duradoiro quando o vejo. E, se esta é a primeira gravação em formato físico do Alex, esperem até ver o formato físico do Alex num palco físico. Esperem até ver como Angola, Brasil e Moita se concentram num puto que vos vai fazer dançar, quer queiram quer não (confiem em mim: vão querer!). Esperem até ver como este “Alex D’Alva Teixeira - Não É Um Projecto” se assemelha ao “Chamem-me Ismael.” no início do “Moby Dick” – a primeira pequena frase notável de uma história maior que a vida. Esperem até ver que não podem esperar para ouvir.
Alex D’Alva Teixeira não é um projecto. É uma projecção. De onde estou não vejo tela, nem parede, nem nada capaz de detê-la.
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